domingo, 13 de junho de 2010

A prima triste.

No Dia dos Namorados minha prima apareceu aqui. Ante o inusitado, pergunto pelo namorado. O primeiro namorado aliás. Ele não havia telefonado, nem iria aparecer. Perguntei se o "ambiente" doméstico havia melhorado. Os pais dela não se falam mais e minha tia faz dias que está no apartamento do meu irmão, em outro Estado. Perguntei sobre o trabalho, a faculdade, ambos insatisfatórios. Perguntei sobre a cirurgia que ela quer fazer para redução de estômago, ela disse ser muito cara. Seus olhos haviam envelhecido pelo menos dez anos desde a última vez que a vi.
Descemos e ofereci morfina para a dor que ela sentia: três Smirnoff Ice goela abaixo, uma calçada para sentar, uma prima quinze anos mais velha para conversar, ouvidos atentos e sorrisos francos. Subimos e ela dormiu até o meio dia de domingo. Saímos para almoçar e tomar um sorvete depois.
Eu, minha mãe e ela, sentadas em um banco, olhando o mar, com nossos respectivos escapes gelados na mão. Após minutos de silêncio, ela vira e pergunta: "Com a experiência que vocês tem, me digam, vocês acham que minha família vai voltar a ser o que era?".
Contive as lágrimas. Deixei para minha mãe o papel da pseudo-psicóloga. Mas naquele momento eu daria tudo para que houvesse um meio de transmitir o que eu sentia, o que eu sabia para ela. Uma osmose mental, um cabo USB, qualquer coisa. Queria tanto que ela entendesse que tudo passa. Que namorados vem e vão, e o primeiro nem sempre é o último, quase nunca é. Que homens a amarão e ela os amará muito e muitas vezes. Que um coração partido , cicatriza. Que nossa família nunca voltará a ser o que era, mas nós podemos nos acostumar com o que ela se tornou. Que ser gorda não é empecilho para a felicidade, quando mais nova fui obesa e sei disso. Que o trabalho e nossa profissão podem não ser perfeitos, nem o que esperávamos deles,mas nos trarão algumas glórias pessoais e júbilos íntimos.
Eu me calei, com a minha amargura e minha pequena ciência do mundo. O gosto de sapoti gelado agora terá sabor de moça nova, virgem de tudo.

4 comentários:

  1. Opa virgem??? Ok... eu sou idiota... não me culpe.

    é tenso manolo... com a nossa ciência e a nossa amargura o melhor que podemos fazer é nos calar. Pra que estragar o mundo pra alguém que ainda tem chances ou esperança? Mas uma coisa é certa... muito certa... o tempo tudo conserta... eu acho... assim eu espero.

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  2. Infelizmente as pessoas (homens ) não perdoam o peso acima do dito normal
    Coitada virgem e foda

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  3. Eu, se me perguntam, respondo (claro, nessas circunstâncias, amorosamente).

    Nunca me atraiu pessoas obesas, ando pensando nisso últimamente: será que não estou desfazendo, desvalorizando, uma pessoa sòmente pela sua aparência?
    Para mim, uma pergunta séria; procedente.

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  4. Gerundino,
    Pode acreditar meu amigo, tudo SEMPRE SE CONSERTA, tenha certeza e fé, que Deus está conosco até o pescoço. Inclusive a virgindade também tem jeito.

    Tiburciana e Sylvio,
    Num mundo de aparências é certo que a beleza externa é superestimada. Não tenho o condão de modificar a sociedade. Apenas me adapto a ela. Por isso emagreci 40 quilos, me visto bem, ando maquiada, cheirosa, e utilizo alguns artifícios que a cosmética e vaidade humana me disponibilizam ( e meu dindin também). Mas a Tiburciana tem razão , os homens são mais visuais que nós. Eu por exemplo, adoro homens acima do peso. Meu reino por uma pancinha bem cultivada. Acho difícil ouvir essas mesmas palavras vindas de um homem. Sylvio nada tenho contra preferências. Assim como gosto de homens gordinhos e branquelos, algumas mulheres não os suportam. Outros gostam de negras, de ruivas, de magras, de mulheres de cabelo curto,etc... Agora direi algo que aprendi com as primaveras, acho que quando um homem ou mulher encontram AQUELA pessoa, a sua metade nessa vida. A criatura pode ser até azul, e nós não vamos nem notar.

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