quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Ela superou o medo.


"A empregada doméstica Cleuza Jerônimo, de 42 anos, sofreu por seis anos as agressões do ex-marido. Durante os 10 anos anteriores da relação, o companheiro tinha se mostrado tranquilo, não bebia e não apresentava comportamentos típicos nos casos de violência contra a mulher. Mas a história ganhou outro personagem."De uma hora para outra, ele começou a me agredir, a me ameaçar, a querer que eu saísse da minha casa para ele morar com a amante. Olha só, depois de 10 anos de batalhas minha e do meu pai para construir a casa, eu ia sair de graça do meu lar?", explica Cleuza.A amante, a mãe da menina e o ex-marido faziam ameaças a Cleuza, inclusive em altas horas da noite. Cleuza conta que o marido exigia que ela pagasse todas as contas. "Como eu era muito submissa, acreditava que era realmente minha obrigação, porque nos 10 anos anteriores, ele tinha cuidado de tudo".Mas o que parecia ser passageiro, foi continuando e tornando-se mais cruel. "Ele me batia, me enforcava, quebrava meus móveis com facão. Certa vez ele cortou as roupas que estavam no meu corpo. Eu temia, eu tinha medo dele, do que ele fazia comigo, mas principalmente do ele poderia fazer com meu filho", conta a mulher, mãe de um garoto de 14 anos.E foi justamente o garoto que, inconscientemente, ajudou a mãe a sair de tal situação. "Eu cheguei no fundo do poço, não queria mais comer, sair de casa, não falava mais, qualquer atividade era um sacrifício. Até que meu filho disse: 'Quando tiver 16 anos, vou comprar um revólver e atirar no meio da testa do pai!'. Aquilo me deixou com medo do que poderia acontecer, e com isso resolvi agir". Em várias ocasiões, Cleuza chegava na porta da delegacia, mas voltava. "Tinha medo do que ele poderia fazer". Quando chamava a polícia, ela reclama que não recebia o atendimento correto. Até que um policial a orientou sobre a Lei Maria da Penha. Ela então procurou a delegacia especializada da mulher e fez a denúncia. Os advogados impetraram medida de segurança, proibindo o marido de se aproximar da casa, e medida protetiva, impedindo que o agressor se aproximasse a menos de 300 metros de Cleuza. Isso aconteceu em dezembro de 2007. Um ano depois, Cleuza trabalha como empregada doméstica, continua tomando remédios anti-depressivos, e o filho estuda o 2º ano do ensino médio, faz inglês e curso profissionalizante. "Hoje, sinto vergonha de ter tido medo. E digo para todas as mulheres que sofrem qualquer violência: Digam Não! Somente vocês tem o direito e a coragem para mudar o rumo da sua vida. A maior vitória da minha vida foi me tornar independente", celebra Cleuza. Cleuza Jerônimo foi escolhida, entre outras mulheres, para estrelar a campanha nacional pelo fim da violência contra as mulheres. Nesta terça-feira (25), foi lançada a campanha de combate à violência, encabeçada pela Coordenadoria Especial de Políticas Públicas para Mulheres."

---Publicado pelo MS Notícias (Campo Grande/MS), 25/11/08.

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